Nota de Repúdio à matéria do JB sobre a Aldeia Maraka’nà

No dia 19/04, o Jornal do Brasil publicou uma matéria sobre a situação atual do prédio do Antigo Museu do Índio. Nela inicia já qualificando como “invasão” a Aldeia Maraka’nà, aldeamento lá estabelecido desde 2006 por resolução do I Congresso dos Povos Tamoios Originários. Ao mesmo tempo que fala da precariedade em que se encontra a construção e o perigo que a mesma corre diante da ação do tempo, se omite em dizer que tudo isso se desenhou foi a partir da ação covarde e criminosa do governo estadual, na figura do então governador Sérgio Cabral, em conluio com Odebrecht e Eike Batista (todos presidiários atualmente), que expulsaram os indígenas que lá promoviam um importante trabalho de resgate da cultura indígena em contexto urbano e seu compartilhamento com a comunidade carioca.

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A matéria simplesmente omite o fato de que houve uma retomada do território pela ReXistência Indígena. Isso é fato sabido não só pela grande quantidade de pessoas que por lá tem passado frequentando as constantes atividades abertas à comunidade lá realizadas, mas também já diversas vezes noticiado nos meios de comunicação (inclusive da grande mídia).

 

Condenamos mais esse ataque que sofremos por parte da grande mídia a serviço dos interesses do capital que insiste em querer nos enfraquecer em nossa luta, mas o que mais nos entristece é ver que essa campanha de calúnias é orquestrada com colaboração de indígenas que se prestam ao papel servil de legitimar as mentiras que o Estado divulga contra a ReXistência da Aldeia Maraka’nà. Sabemos que temos diferenças políticas dentro do movimento indígena e isso é até normal, mas é simplesmente repugnante que parentes se corrompam a tal ponto de divulgar em público acusações contra outros indígenas nos meios de grande circulação que, como é sabido, só servem como panfleto manipulador a serviço dos poderosos, que sempre nos oprimiram e nos caluniaram.

Mutirão na Aldeia Maraka'nàUm dos incontáveis mutirões e vivências de revitalização do espaço promovidos pela ReXistência de maneira autônoma

Na matéria, os indígenas entrevistados não satisfeitos em exaltar sua “luta”, cuja grande conquista segundo eles próprios seria a criação de um tal Conselho Estadual dos Direitos Indígenas, ainda ousam culpar, pelo abandono do imóvel, a ReXistência Indígena, que desde a covarde remoção em 2013 jamais arredou o pé. Classificam a ReXistência como uma “dissidência indígena”, que estaria atrapalhando as negociações com o Estado. Ou seja, se o prédio está em estado precário, não é porque este mesmo Estado, a serviço da máfia das empreiteiras, expulsou todos os indígenas que lá estavam aldeados (inclusive os que hoje se dedicam a “negociar” com ele) com o objetivo de destruir a Aldeia Maraka’nà, mas por que aqueles que nunca deixaram cair a bandeira desta luta estariam atrapalhando…

frutos!Contra todas probabilidades e mau olhados,a Aldeia dá seus frutos abençoados por nossos Encantados!

Como podemos compreender tal atitude destes indígenas ao servirem de marionetes de interesses tão obscuros? Ingenuidade ou má fé? É nítido que hoje uma das mais perigosas armas do Estado brasileiro nos seus ataques ao movimento indígena tem sido promover a divisão deste por meio da cooptação de lideranças. O caso mais notório dos últimos tempos foi o de Belo Monte, quando a resistência só pôde ser vencida quando algumas lideranças foram compradas com casas, carros, etc. O mesmo ocorreu aqui na luta da Aldeia Maraka’nà. Os que hoje nos acusam, receberam suas vantagens e até hoje são patrocinados pelo mesmo Estado (contra o qual supostamente lutam) com a realização de eventos na área nobre da cidade.

Quanto a nós da ReXistência Aldeia Maraka’nà, podemos afirmar com a cara limpa que mesmo quando o Estado nos mantinha fora de nosso território com o aparato da Força Nacional, garantindo a “limpeza” dos grandes eventos esportivos (Copa e Olimpíadas), nunca deixamos de bater nossos marakas em volta da fogueira, mesmo que fosse na calçada, do outro lado das grades que isolavam o terreno. Hoje as grades foram retiradas propositalmente pelo Estado, pois querem que o espaço se deteriore cada vez mais. E este processo de degradação só tem sido retardado justamente por conta da presença da dita “dissidência”, que faz a segurança do local com vigília permanente desde que houve a retomada do território em meados de 2016. O espaço está sob constante ameaça com a presença de torcidas de futebol, usuários de drogas, ladrões e todo tipo de pessoa que busca o espaço até mesmo para realizar necessidades fisiológicas. Não temos conhecimento do que o tal conselho de direitos indígenas conseguiu de concreto para a defesa da Aldeia Maraka’nà, para além das velhas promessas, mas o fato é que o espaço só não se converteu numa cracolândia por conta da presença da ReXistência que vem mantendo a segurança da área na medida de nossas possibilidades.

Ser Aldeia Maracanã não é comédiaMunição recolhida no território da Aldeia Maraka’nà após a final da Copa Sulamericana

Nunca abandonamos a luta, mesmo quando nos agrediram violentamente ou nos assediaram com suborno. Dissidência é termo mais apropriado para aqueles que abandoram a resistência. Além de resistirmos em condições precárias e obviamente (e felizmente) sem nenhum apoio estatal, ainda realizamos inúmeras vivências, oficinas e atividades políticas e culturais apenas com apoio da sociedade civil. Assim pensamos em construir nossa luta, sem rabo preso e com total autonomia.

A cara-de-pau é tão grande que ao mesmo tempo que nos responsabilizam pelo não andamento das negociações, ainda afirmam que “a crescente impopularidade de Cabral após as manifestações nas ruas de junho de 2013, entretanto, o levou a reabrir negociações com os índios ‘invasores’”. Ora, quem pulou fora do barco desde a primeira hora quando o Estado neocolonial ofereceu “pentes e espelhos”? E quem manteve a reXistência pelo território sagrado com manifestações de rua e inclusive fez da luta da Aldeia Maraka’nà o principal foco irradiador das jornadas de Junho de 2013? Só alguém completamente alheio a esta luta poderia ignorar tais fatos. Ou alguém com interesse em distorcê-la…

Será que ainda não aprendemos que o Estado colonial apenas nos ilude com suas promessas? Desde 2013, que promessas foram cumpridas? Só pentes e espelhos! Continuar propagando tais ilusões ou é tolice, ou o velho jogo do “joão-sem-braço”.
Construímos o projeto da primeira Universidade Indígena Autônoma do país e é isso que ambicionamos como destino de nosso território sagrado. Se nossos detratores querem endossar um tal projeto de Centro de Referência Indígena engendrado e tutelado pelo Estado com o agenciamento de ditos indigenistas, que se escondem atrás de lideranças indígenas, nisso não nos metemos. Até porque nossa Universidade abarcará muitos centros de referência e ainda irá muito além. Estamos realizando nossas atividades em paz e não queremos que dissidentes venham perturbar nossa harmonia. Cada um escolheu o caminho que deseja seguir. O nosso foi o de manter sempre firme a resiXtência e nunca abandonar nosso território sagrado. Aqui sempre estivemos e aqui sempre estaremos! Melhor não mexer com quem está quieto…

Alertamos o movimento indígena e a sociedade civil de que esta campanha orquestrada pela imprensa reacionária pode representar a preparação de alguma movimentação por parte do Estado contra a ReXistência Aldeia Maraka’nà, usando como testas-de-ferro as próprias dissidências do movimento indígena. A luta deve seguir unida entre aqueles que lutam de verdade! Não podemos permitir que mais uma vez o Estado logre nos dividir.

proteção
Nossa Aldeia é bem guardada!

Aldeia Maraka’nà reXiste!

 

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Aldeia Rexiste é a bandeira de todos e todas que sutentam a luta pela afirmação de nossas raízes em meio à maré braba e todas tempestades que se abatem sobre nosso sangue. Assim seguimos resistindo e existindo!

E aqui anunciamos a quem queira ouvir de boa fé!

Sejam bem vind@s!